Ouça. Apenas ouça.
Terminei de ler Onde Andará Dulce Veiga?, de Caio Fernando Abreu. Não sei se há muito a ser dito. O livro é tão... intenso. Quase autobiográfico. Consigo ver Caio no homem cujo nome não é conhecido. Vejo Caio no cara do jornal. Vejo Caio na dúvida. No medo. Na entrega. No Saul. Sim, no Saul. Até nele. Vejo Cazuza no Pedro. Pretensão, talvez, mas vejo. Vejo "bilhetinho azul" em Pedro. Vejo morte em Pedro. E em Cazuza. Vejo morte em ambos. O cara do jornal é um morto. Morto vivo, zumbi, adepto à toda tentativa de se reencontrar. Tentou se encontrar perdendo Pedro. Não conseguiu perdê-lo, não conseguiu se encontrar. Você não quer voltar?, ele sempre perguntava. Pedro não quis. Não quis contaminá-lo com seu amor. E mais: vejo em Dulce a imagem do que Caio quis. Que o cara do jornal quis. Algo maior. Dulce Veiga era algo maior. Dulce Veiga era a procura, a espera. Correu atrás a vida toda. Atrás da identificação, da procura, do inexistente, do esquecido. Dulce Veiga seria a cura de algo. O amor, por sua vez, contaminara tudo.
Mas, mais que isso - pior que isso, eu diria - é que eu me vi no cara do jornal: sempre em busca de algo maior. Em busca de Dulce Veiga - onde será que anda? Parece que falta, falta em mim, falta no interno, na essência; falta algo. Dulce Veiga me falte, talvez. Algo. Alguém. Que substitua, preencha, complete tudo aquilo o que falta.
E eu não sei porquê e não sei desde quando, mas sei que me falta algo. Algo grande. Algo maior. Algo que me faça cantar.