mudanças
2:47 PMA última vez que entrei no salão foi em julho deste ano. A cabeleireira lavou meu cabelo com aqueles xampus super hiper mega adstringentes que tiram até sujeiras de quatro carnavais passados e, obviamente, quase metade da química que existe nos fios.
Sou refém das progressivas da vida desde 2008, quando minha avó, ao ceder às minhas inúmeras pressões emocionais para ficar lisíssima, usou um produto a base de guanidina no meu cabelo - onde já tinha amônia. Você aí que vai ao salão deve imaginar o que aconteceu: caiu. Meu cabelo fritou e caiu! O cabelo, que estava na cintura, acabou no ombro, como palha.
Desde então, venho usando a desculpa de estar "hidratando" o cabelo para fazer progressiva bi, tri e mensalmente. E aí, neste dia em questão, quando a cabeleireira lavou meu cabelo com o xampu super-limpante, meus cabelos cachearam completamente. Como eu não via há 5 anos. E ela disse: "Puts! Tá muito cacheado. Dá até pra jogar uma hidratação e deixar naturalíssimo, se você quiser... E aí?". Olhei os cachinhos. E lembrei do porquê d'eu ter alisado: porque todas as minhas amigas tinham cabelo liso. Minha mãe tem cabelo liso. O cabelo da minha avó é cortado todo torto, porque é tão liso que escorre pelo rosto e ela quer volume. Alisei o cabelo, porque eu era diferente de todo mundo.
Lembrei disso depois da pergunta da Lis (a cabeleireira). Fiquei um tempo olhando pro espelho. Meu primeiro impulso foi engolir o nó que grudou na garganta. Em seguida, falei: "vai, alisa logo antes que eu desista!".
Cheguei em casa e, com o resultado, fiquei desanimadíssima. Ficou esquisito.
Tava tão acostumada a ir, sentar, fazer, ir embora e continuar a vida que esqueci do porquê estar fazendo aquilo. Era tão natural que tava tudo bem ficar cinco anos no mesmo hábito de alisar os cabelos, sendo que eu já tinha entendido que o fato do meu cabelo estar igual ao de todo mundo não mudava que eu continuava sendo diferente de todo mundo que tava ao meu redor.
E aquela foi a última vez que eu fiz uma escova progressiva, chapinha ou qualquer coisa assim. O efeito da química demora alguns meses pra passar e agora tá saindo. E sempre que eu lavo o cabelo, paro pra pensar quantas "progressivas" existem na minha vida. Quantas coisas eu faço há tanto tempo no piloto automático que já se tornaram parte de mim - mesmo que não sejam.
Quando os cachos começaram a aparecer, lembrei que as características externas não mudaram que sempre fui a mais desarrumada do grupo, mas a mais antenada. A que nunca tava com a "maquiagem adequada pra situação" (até porque eu aprendi que base e pó são coisas diferentes só ano passado), mas sempre tava na roda, porque sabia o que falar. Eu nunca soube me vestir bem, mas sei conversar sobre qualquer coisa.
Meu diferencial nunca foi a primeira impressão, sempre foi a surpresa que vinha depois.
Tô acostumada a ouvir que "você tem cara de nerd, não sabia que podia ser engraçada...", junto com os eventuais "seu sorriso é lindo, só podia dar uma reforçada com um batom mais forte..."
Puxa vida! Não direi que me esforço: seria mentira. Tenho dezenas de itens de maquiagens, mas não sou do tipo que usa uma maquiagem diferente pra cada situação. Raramente serei vista com coisas muito trabalhadas. Não tenho paciência.
Entretanto, aprendi há algum tempo que sou diferente das outras pessoas. E mesmo aquelas que parecem ser todas iguais, têm dentro de si suas diferenças, também. Porque cada um tem uma razão pra fazer cada coisa. Aprendi a admirar e gostar dessas blogaayyyyyraaassss de moda. De verdade! Elas trazem pra meninas tanta auto-estima e auto-confiança que mereciam um abraço. Perdi as contas de quantos "você me ajudou a me sentir bonita!" já li em comentário do YouTube dessas b/vlooogaaayyraasss.
O importante é que a gente consiga se olhar no espelho e entender o porquê de fazer o que faz. Vale muito mais a pena do que se pegar sentada numa cadeira de salão, encarando o espelho e tentando entender a razão pela qual um cabelo liso é tão necessário assim. E pior: não encontrar.
Agora sei que não importa como tá meu cabelo. Se tá liso, cacheado, mesclado, ó do borogodó. Chapinha, secador, baby-liss, grampo, trança... Tem tanta coisa que dá pra arrumar. Tenho tentado colocar significado e razão no que eu faço.
E se o cabelo tá cacheado, natural e eu tô bem com isso, tá ótimo. É diferente de quase todo mundo, eu sei. Dizem que não é tão bonito, eu sei - apesar de discordar. Dá um trabalho lascado, eu também sei.
Mas tá assim, porque eu escolhi que ficasse. E minhas escolhas, assumo. E cuido para que não caiam na rotina. E me permito mudar.
Por mais que no meio do caminho apareçam oportunidades que façam com que as mudanças sejam dolorosas. Mesmo que as mudanças signifiquem abrir mão de coisas [e não falo necessariamente de cabelo, neste momento]. Mesmo que signifiquem que o tempo será menor. Até se significarem adiar algumas outras coisas.
Tudo bem. Toda transição é dolorida. Mas, se tem porquê, faz sentido. E, se faz sentido, tem razão. E, se tem razão, dá pra correr atrás.
Encontrei o x desta questão: é ir atrás de significado. Coisas que fujam da rotina, dos padrões, do que está tabelado e protocolado. "Fazer porque tem que fazer" é um saco, mas é a vida de gente grande. E, meu Deus, deixemos para ser gente grande só no trabalho. Na vida, no cabelo, na roupa, no esmalte, no conhecimento: sejamos nós mesmos. Gente Grande faz o que tem que fazer. Gente de verdade faz o que gosta. E Gente Grande não sabe porque faz o que faz (tá aí a razão das Campanhas de Incentivo Corporativas). Gente de verdade, sabe. E faz feliz ;-) [mesmo sem campanha].
♥
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