passei minha vida inteira escolhendo entre os amigos velhos e os novos. de idade, de tempo de convivência, de tempo de amizade, de quantidade de segredos compartilhados. escolhendo entre me manter perto de quem sempre esteve perto ou me manter perto de quem me dá razões pra estar. 

por muito tempo, escolhi os novos. e, com o tempo e a maturidade, fui aprendendo que não é o novo que é bom: o desconhecido é. porque todo mundo é meio estranho, errado e cagado quando visto de perto. porque de longe a gente é bonito, pomposo, forte, insubstituível e dono de um caráter inabalável e admirável. mas de perto... ah, de perto.

de perto é quando a gente descobre quem é bróder de verdade. porque quando vê a gente de perto, com a lente de aumento da intimidade e com o cheiro das lembranças compartilhadas, as coisas ficam diferentes. a gente precisa amar mesmo quando sabe que deu uma puta mancada na semana passada e aprende a suportar quando você tá muito triste, mas precisar dar um apoio emocional pr'aquele amigo cuja dor, pra você, parece só um dedinho no canto da mesa.

mas é a dor dele. e a dor dos outros a gente precisa aumentar na hora de tentar entender. porque nunca dói tanto quanto dói na gente de verdade. e pode ser só, de fato, um dedinho no canto da mesa. mas dói, ué. depois passa, sempre passa, mas na hora dói e todo mundo precisa de um lugar pra fazer escândalo e se esconder da realidade por um tempinho. e o dever do amigo é fazer isso. 

então valeu, gente. valeu, porque 'cês me 'guentam quando eu tô sem andar porque fiz cirurgia no dedão (porque sequer sei me machucar direito e faço essas coisas vergonhosas, tipo operar o dedão do pé) e me guentam quando o problema é brabo mesmo. e eu sei que vocês engolem as dores e os problemas de vocês pra ouvir os meus. sei que vocês desmarcam seus compromissos pra dividirem a mesa do café e emprestarem o ouvido. sei que vocês perdem almoço de família pra esperarem por alguma coisa comigo. sei que vocês abrem mão do orgulho pra pedirem desculpas quando eu sou incapaz de fazê-lo.

por isso eu sou grata por vocês. muito, muito, muito grata. porque o tempo anda difícil e a vida tropeçando, mas a gente vai juntinho: então vai bem :)

a gente vai junto nos barrancos e nos parques ensolarados da vida. 

nas alegrias forjadas e nas tristezas compartilhadas.

nas memórias (de quando todo mundo era no mínimo 10kg mais magro)

e eu tinha cabelo comprido, enrolado e muito, mas muito armado.

ou do ano que eu odiava o mundo inteiro...

ou daquelas amizades que depois de 5 minutos a gente já sabe que dura até o fim da vida.

pra quem compartilha dos mesmos amores.

e aquela amizade que não compartilha de amores, mas suporta as diferenças, porque estar por perto é muito melhor do que estar longe.