"ando tão cheio de tudo"
10:57 AMO Filipe Catto tem uma música chamada "saga": é forte, bonita, composição de um lirismo inigualável e melodia de uma sonoridade tão agradável que poderia ouvi-la repetidas vezes sem me cansar. A música tem entre quatro e cinco minutos, mas o que me aperta (e liberta, de certa forma) o peito são os segundos iniciais.
Andei
depressa
para
não
rever
meus
passos
Andei
depressa
para
não
rever
meus
passos
Andei
depressa
para
não
rever
meus
passos
Andei depressa para não rever meus passos.
Não sei porquê, mas dos meus pés à cabeça parece passar um fio de nylon que puxa minha emoção e meu fôlego sempre que essas palavras são pronunciadas: são tão verdadeiras. Eu ando. Corro. Voaria, se fosse possível, porque não quero rever meus passos.
Numa insaciável ânsia por dias melhores, esmago o cotidiano com as preocupações, divagações, devaneios (cada vez mais aparentes) e baldes de anseios e receios (que não perco com a luz do dia).
Ando cansada de tudo. Um clichê, uma verdade, uma poesia (se você for muito otimista), um estilo de vida: ando cansada de tudo. Cansaço de quem acorda cedo, pega ônibus, trabalha, cozinha, come, deita, assiste alguma coisa, lê alguma coisa, é vencido pelo tal cansaço, fecha os olhos, mas não descansa. Dorme, mas acorda com o peso nas costas, a cabeça que dói, o peito que aperta, a saudade de tudo. Tem coisa pior.
Às vezes me pego pensando em todas as coisas que não importam. E tem tantas que importam e sobre as quais não podemos fazer nada porque diariamente nos jogam baldes de situações inúteis e constatações óbvias e mais inúteis do que as situações supracitadas e a vida passa e a gente nem vê.
Quando comecei a escrever isso aqui me passou pela cabeça dizer como ando irritada, brava, querendo que o mundo imploda e, depois, se sobrarem cacos, exploda tudo o que sobrar. E que não sobre um caco - nem eu mesma pra contar história. E que história, meu Deus, num país que ninguém é respeitado, que candidato a presidência (um puta cargo político que teoricamente te põe nos bastidores E no palco final do grande show de horrores que é a nossa sociedade) pode fazer piada em debate e virar a sensação entre uma juventude (que, ao contrário do clichê de Wasted Youth, sabe muito bem para o quê veio) cheia de sonhos. Sabem para o quê vieram, mas continuam jovens, esperançosos, ingênuos. E não sei se estou amarga (uma amiga disse que estou, mas não botei muita fé nela também): não consigo ver nada desta forma.
A gente perdeu a força. Quem roubou nossa coragem, Renato? Descobriu?
Mas decidi que não, que não ia falar da impotência, da vergonha e da pobreza imponente em cada esquina. E essa decisão foi inútil, porque não tem o que ser dito - ou feito - que não envolva essa falta de cor que permeia o ar do meu dia-a-dia.
Alguém me diz: tô ficando chata, amarga mesmo ou irritadiça a toa? É efeito colateral do remédio? Ou tá tudo bugado, mesmo? Ou o mundo tá mesmo correndo de desespero e screaming its balls off pra tentar sair dessa loucura - sem sucesso?
E esses dias andam feios. A primavera começou ontem (e deu um "até breve" pro nosso falso inverno SP 35ºC) e nem as flores têm melhorado meu humor. As begônias do meu quarto murcharam, tão rebeldes que sempre foram! No fim das contas, paro no fim do dia, vencida pelo cansaço, e peço a Deus um pouco mais de paciência. E paz no coração das pessoas, sempre tão cara-fechadas, também vencidas pelo cansaço, pela exploração, pela falta de vontade. Cansada dos atendimentos irritantes dos telecentros, da cara-feia dos baristas, dos chefes mal educados, da vida cada vez mais cara, das filas cada vez maiores, dos impostos cada vez mais altos, dos salários parando de aumentar, do entretenimento cada vez mais caro, dos prazeres cada vez mais curtos, dos sacrifícios cada vez maiores.
A vida tá meia-boca pra todo mundo. Será que isso tem cura?
- do "Outras Vidas Que Não a Minha", Emmanuel Carrère.
Ando cansada de tudo. Um clichê, uma verdade, uma poesia (se você for muito otimista), um estilo de vida: ando cansada de tudo. Cansaço de quem acorda cedo, pega ônibus, trabalha, cozinha, come, deita, assiste alguma coisa, lê alguma coisa, é vencido pelo tal cansaço, fecha os olhos, mas não descansa. Dorme, mas acorda com o peso nas costas, a cabeça que dói, o peito que aperta, a saudade de tudo. Tem coisa pior.
Às vezes me pego pensando em todas as coisas que não importam. E tem tantas que importam e sobre as quais não podemos fazer nada porque diariamente nos jogam baldes de situações inúteis e constatações óbvias e mais inúteis do que as situações supracitadas e a vida passa e a gente nem vê.
Quando comecei a escrever isso aqui me passou pela cabeça dizer como ando irritada, brava, querendo que o mundo imploda e, depois, se sobrarem cacos, exploda tudo o que sobrar. E que não sobre um caco - nem eu mesma pra contar história. E que história, meu Deus, num país que ninguém é respeitado, que candidato a presidência (um puta cargo político que teoricamente te põe nos bastidores E no palco final do grande show de horrores que é a nossa sociedade) pode fazer piada em debate e virar a sensação entre uma juventude (que, ao contrário do clichê de Wasted Youth, sabe muito bem para o quê veio) cheia de sonhos. Sabem para o quê vieram, mas continuam jovens, esperançosos, ingênuos. E não sei se estou amarga (uma amiga disse que estou, mas não botei muita fé nela também): não consigo ver nada desta forma.
A gente perdeu a força. Quem roubou nossa coragem, Renato? Descobriu?
Mas decidi que não, que não ia falar da impotência, da vergonha e da pobreza imponente em cada esquina. E essa decisão foi inútil, porque não tem o que ser dito - ou feito - que não envolva essa falta de cor que permeia o ar do meu dia-a-dia.
Alguém me diz: tô ficando chata, amarga mesmo ou irritadiça a toa? É efeito colateral do remédio? Ou tá tudo bugado, mesmo? Ou o mundo tá mesmo correndo de desespero e screaming its balls off pra tentar sair dessa loucura - sem sucesso?
E esses dias andam feios. A primavera começou ontem (e deu um "até breve" pro nosso falso inverno SP 35ºC) e nem as flores têm melhorado meu humor. As begônias do meu quarto murcharam, tão rebeldes que sempre foram! No fim das contas, paro no fim do dia, vencida pelo cansaço, e peço a Deus um pouco mais de paciência. E paz no coração das pessoas, sempre tão cara-fechadas, também vencidas pelo cansaço, pela exploração, pela falta de vontade. Cansada dos atendimentos irritantes dos telecentros, da cara-feia dos baristas, dos chefes mal educados, da vida cada vez mais cara, das filas cada vez maiores, dos impostos cada vez mais altos, dos salários parando de aumentar, do entretenimento cada vez mais caro, dos prazeres cada vez mais curtos, dos sacrifícios cada vez maiores.
A vida tá meia-boca pra todo mundo. Será que isso tem cura?
e há tempos são os jovens que adoecem
e há tempos o encanto está ausente
e há ferrugem nos sorrisos
e só o acaso estende os braços à quem procura
abrigo
e
proteção
E sobre o título:
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