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5:58 PMDos dias que a gente amanhece bem, até olhar pro relógio: trinta de setembro. De 2011 pra cá, o bimestre setembro-outubro é sempre um show de horrores. A Gastriste dá às caras, a Asma ataca e não me deixa subir escadas, a Sinusite se mostra presente em meio às noites insones, enfim, uma avalanche de sintomas ruins. E tudo começa no mesmo dia trinta.
Trinta de setembro. Odeio o jeito como essa data soa. Quando a gente pega birra de algo, até a forma como respira irrita. Eu odeio o ar de trinta de Setembro. Odeio as flores da primavera que está começando a dar as caras. Sei que amores imperfeitos são as flores da estação, Samuel, mas dessa estação só vejo as cinzas.
Trinta de setembro é quando a saudade é tão grande que lembra da cor da caneta que escreveu no canto do caderno de capa de skatista com o símbolo da tilibra em vermelho, numa página com rabiscos de imunologia que se o teu afeto me afetou é fato então faça-me o favor. Trinta de setembro é quando a dor dói o dobro, a falta parece interna, o mundo inteiro incomoda, o clima atrapalha, os dedos dóem, a coluna entorta, a cabeça gira, o mundo não pára.
Trinta de setembro é quando o planeta inteiro parece não ser espaço suficiente pra altura do grito que o peito quer soltar. Trinta de setembro é a múmia do aviso inesperado. Trinta de setembro é a dor da perda, o abraço vazio, a lágrima que, sem ter quem a ampare no rosto, cai no pescoço, molha o colo, dói o peito. Trinta de setembro é a saudade do sorriso, a falta da cumplicidade, o buraco que fica quando não se tem mais enfiar a cabeça.
Trinta de setembro é lembrar que tem uma hora que você tem que escolher a vida, mas, às vezes, a irracionalidade da dor é maior e não se escolhe o que seria natural. Trinta de setembro é dia de lembrar que não há amor que impeça a ida; mas que Hermann Hesse estava errado ao dizer que não há dor que justifique a fuga.
Trinta de setembro é dia de dor, porque você se foi e não pude amparar a sua.
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