UMA EX-FUTURA MUITA COISA

8:21 AM

Quando eu era bem pequena, eu queria ser cantora. Mas aí eu descobri que não sei cantar e também não gosto da ideia de ir para um curso ouvir sobre respiração e blablablá. Sempre cri na história de que cantar é dom. E aí desisti.

Cresci um pouco e resolvi ser professora. Uns dois meses depois, descobri que não gosto de crianças e aí quis ser professora específica de português pra alunos do colegial. Quando fui pra sétima série, descobri que não gostava de adolescentes também.

Entrei por acaso em algumas salas pra anunciar a apresentação da minha peça infantil e eles estavam todos desordenados. Odeio desordem quando tem alguém tentando ensinar algo importante. Desisti da ideia.

Quando terminei o ensino fundamental, resolvi ser promotora pública. Eu gostava de expressar minhas ideias e gostava mais ainda quando alguém as levava em consideração pra algum futuro julgamento. Por que não fazê-lo por uma remuneração convincente? Desisti assim que descobri que existiria uma legislação burra e auto-destrutiva por trás das minhas ideias.

Hoje eu não sei mais o que eu quero ser. Porque eu gosto de desenhar. E gosto de escrever. E gosto de rabiscar perto do que eu escrevo e de quando escrevo algo ilustrado. Mas também gosto de ler um monte de coisas absurdas e gosto muito de política. E também gosto de música. E também gosto de ensinar. Meus desejos de criança que consistiam na arte e na educação ainda não mudaram. Eu só não encontrei algo que os encaixe. E eu só tenho mais alguns meses pra decidir.

Acontece que eu não gosto tanto assim de dar aula pra gente desinteressada e também não gosto tanto assim de cantar a ponto de ouvir alguém falando coisas em que eu não estou interessada. E também não tenho jeito pra tocar violão ou qualquer outro instrumento de corda. Já cheguei até a fazer uns meses de aula de teclado.

Não deu muito certo.

Acho que vou acabar como ilustradora free-lancer, vendedora de livros e morando num apertamento todo colorido com citações do Machado de Assis, Fernando Pessoa e Caio Fernando de Abreu pelos quatro cantos da cozinha. E tirinhas do Calvin e Haroldo no banheiro. E muita, muita cor. E tinta por todos os cantos. E muito amor. E sem profissão, sem ensinar, sem tristeza, sem "mas". Só uma bagunça imensa de coisas que eu sempre quis ser e nunca fui.

Quem vai dizer é o tempo.

Tempo, tô esperando por você.

Com amor,

A ex-futura-cantora-professora-promotora-música Giovanna.

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