mais pessoal, só se entrar na minha gaveta de calcinhas
8:36 PMEu tenho medo de ficar sozinha. De excesso de barulho, de portas que batem sozinhas e de desistência. Tenho medo de ninguém me convencer a ser diferente e tenho medo de que as pessoas se acostumem com meu jeito. Medo de arriscar, sugerir, conferir, contar. Medo de não ser. Algo, alguém. Importante, desimportante. Alguém. Medo, ou receio, de não me conhecer. Medo de ouvir não. Medo de ouvir sim. Medo de ouvir. Medo de falar.
Fico feliz quando ouço música boa tocada por alguém que eu gosto. Quando consigo terminar todas as minhas tarefas no final do dia e ter tempo pra dormir. Quando termino as tarefas e fim. Quando ouço algo que me dá vontade de dançar. Quando o dia fica claro. Se dá pra ver que o romance é real e não é idiotice, fico feliz. De ver coisas coloridas. De encontrar gente sorridente. De ouvir histórias sobre cachorros enormes cujas donas dizem "ele é tão mansinho...". A felicidade me transborda quando sou capaz de escrever.
São muitas coisas sobre mim? Talvez sejam, não sei. Essas coisas, porém, não são importantes. Sim, é claro que elas compõem boa parte do meu "eu" e isso não é algo perene. Enfim. Acho que mais importante seria dizer o que me inspira pra escrever. O que me lembra quando o dia tá claro - razão pela qual fico feliz. Tenho mania de me perder nas consequências e esqueço das razões, sempre tão importantes. Nietzsche diz, em O Crepúsculo dos Ídolos, que erramos cotidianamente ao confundirmos razão, consequência e causa. Confundo muito, Nietzsche. Muito. Às vezes me dou por vencida e digo "tá, foi isso que deu", quando isso, (consequência) é, na verdade, razão. A razão, minha desistência, resultou em algo, causado por alguma outra coisa. Mas nunca penso nisso e acabo fazendo merda. Esquecendo que as coisas acontecem por uma razão e são causadas por alguma outra coisa. Ambos geram consequências.
É tão complicado pensar desse jeito. Gosto mais de não pensar. Nietzsche também diz, nesse mesmo livro, que "só permanece em paz aquele cuja alma não anseia pela paz". Posso e devo concordar.
Li, certa vez, que Cabeça cheia / cria nó, / mas / não cria pó. Indeed!
Só ainda não decidi qual seria melhor. Uma cabeça vazia, mas com paz e felicidade? Uma cabeça cheia, porém inquieta e possivelmente depreciativa?
Não sei até onde eu iria pelo conhecimento. Tristeza domina e afugenta. Diminui.
A indecisão apavora e me mete numa gaveta de calcinhas. Sabe, aquela gaveta que quase ninguém vê, mas você sabe que precisa abri-la sempre? Pois bem. A indecisão me mete bem ali, no fundo de todo o meu pessoal, no que está por detrás da calça jeans e da saia até o pé. A dúvida esquece do azul-vermelho que combina e me coloca numa calcinha cor-de-rosa e diz: e aí? Essa é você. O pessoal. Aqui é teu mundo. Se vira. Se descobre. Se entende.
A dúvida é cruel.
Mas, ainda pior que a dúvida, é a razão. Essa que diz: sabe aquela tua dúvida? Pois bem, nos livramos dela. E essa é você. Imutável. Está feliz? Sim? Não? Não importa. É assim. E é porque é assim que tem que ser e tem que ser assim, porque você escolheu ser.
E sei lá, daí pra frente você se vira. Você se adapta à razão que pode, por vezes, te cegar e te prender num quadradinho limitado; ou se mete de novo numa gaveta de calcinhas e tenta separar tudo no que é razão, no que é consequência, no que é causa. No que isso te transforma, no que isso te faz, no que isso te fez. No que isso é.
Acho que mais um dos meus medos é esse: Medo de um dia ter certeza. Parar de duvidar e começar a afirmar. Vai ficar tudo tão quadradinho e separado por cor que vou me perder.
Até lá, vou aqui tentando me ajustar às certezas e organizar as dúvidas. Quem sabe não exista um meio termo.
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