discussão sobre roupa, cabelo e porque eu acho que ninguém devia discutir isso

5:35 PM

Oi. Meu nome é Giovanna Marques. Eu tenho sete regatas pretas, duas brancas e uma estampada que nunca uso. Seis calças jeans do mesmo tom. Três sapatos oxford (um "champagne" [sempre achei que era rosinha, mas uma amiga que manja mais disso do que eu me esclareceu que aquele tom chama-se desta forma. Obedeci.], um bege e um preto), dois mocassins (um bege e um vinho), três all stars (da mesma cor e modelos diferentes) e duas sapatilhas (uma azul e uma melissa que machuca meu pé). Eu tenho duas blusas super descoladas que são soltinhas, estampadas.  E me deixam parecendo um balão. Tenho um monte de shorts jeans do mesmo tamanho, lavagem e estilo. Tenho uma saia de paetê que usei no Natal de 2011 (e tirei antes do fim da festa). Tenho um vestido que vai até o pé - e uso sempre que posso.

Oi. Meu nome é Giovanna Marques. Eu larguei a progressiva. Meu cabelo, hoje, é cacheado e eu uso solto. Mesmo quando tá volumoso. Mesmo quando os resquícios de progressiva dão as caras. Mesmo quando não dá tempo de lavar antes de sair e ele fica amassado do sono. Mesmo quando eu esqueço de arrumar antes de dormir. Mesmo quando me olham feio.

Oi. Meu nome é Giovanna Marques. Eu entro em blogs jovens diariamente pra uma pesquisa que faço desde o início desse ano. E leio comentários estúpidos e escrotos todos os dias. Incluo aqui coisas como "essa roupa te deixou gorda", "você era mais bonita quando usava a marca X", "emagrece uns 4kg", "sorri pra foto!", "não gostei dessa pose", "esse sapato já saiu de moda", "essa combinação não ficou boa", "essa jaqueta é tãããão last week" e o melhor de todos: "se mata, garota!".

Jovens são cruéis. Meninas são cruéis. Diga-me, você aí, por que raios é tão importante assim que eu compre roupas sazonalmente? Neste ano, durante minhas visitas à estes blogs "formadores de opinião", tenho notado que as leitoras julgam excessivamente a aparência das pessoas que dedicam seu tempo fazendo aquele conteúdo. "Mimimi, tão dando a cara a tapa tem que aceitar crítica". Sim, verdade. Um "mim não conjuga verbo" ou "o conteúdo do blog poderia falar mais sobre tal coisa..." vai bem, obrigada. Agora, tente me explicar quão crítico é, de fato, um comentário como "se mata, garota. Você tá gorda e essa blusa piorou isso!"? Não consegue, eu aposto.

É clichê dizer que cada um sabe o que faz, eu sei. Mas é isso aí: cada um sabe o que faz. E independente de quantas vezes comentarem que "essa sua roupa tá hor-rí-vel!", isso não vai fazer com que Fulana de Tal deixe de usá-la, se a roupa fizer com que ela se sinta bem. Se Fulana de Tal está bem com seu corpo, quem é você para dizer que ela deve emagrecer?

Aliás, que neura do cacete é essa de que todo mundo tem que pesar 55kg, vestir 36 e ter 1,70? E ah! Tem que ser tudo isso sem ser mala de academia no Instagram, viu. Pega mal.

Ah, mas faça-me o favor. Nem de longe quero ser a tia moralista que fala que não pode julgar o amiguinho, mas sejamos coerentes. A sua crítica só dá um efeito: o de encheção de saco. Porque, quando senta-se pra conversar, a roupa que se usa não vale nada. Porque, quando anda na rua, o vestido que "ficou muito longo", a "combinação de roupa que não rolou" com uma "jaquetinha last season" por cima fazem parte de mais uma das zilhões de roupas que vão passar e ninguém vai dar a mínima.

A internet é uma maravilha. Você consegue se informar sobre sua amiga da época do colégio e sobre os conflitos da Síria em uma distância de dois clicks. Mas é, também, uma bosta, porque dá uma liberdade absurda pra gente imbecil abrir a boca (ou bater os dedos) e falar o que não deve.

Se a roupa da Fulana não te agrada, não use. Se o cabelo dela, no seu ponto de vista, é feio, não faça o mesmo com o seu. Se o blog dela tem conteúdo que não te agrada, não acesse. Se a loja dela "é cara e os produtos não prestam", não compre. Se ela "tem atitude de broaca filha da puta", não aja como ela. Se Fulana de Tal "copia coisa dos outros", não dê audiência.

Perder tempo criticando e se desgastando com o que você não gosta é coisa de gente idiota. Perder tempo julgando a roupa que Fulaninho e Fulaninha usaram é uma imbecilidade que eu queria poder ser capaz de exprimir em palavras. Mas não posso.

O mundo da moda é uma loucura. A gente vê calça neon apedrejada numa estação e endeusada na outra. A gente vê rosa-pastel-champagne como tendência no outono e como i-ni-mi-ga pro verão.

Mas, diz aí, se eu seguir essas tendências muda o que? E se eu, Giovanna Marques, dona de um guardarroupa repleto de regatas lisas e calças jeans do mesmo tom, não sou obrigada a utilizá-las, por que a menina que cria conteúdo pra internet é?

É um egocentrismo estrondoso achar que sua opinião na forma como alguém se veste, o que é uma coisa tão pequena, vai ser de alguma relevância.

A gente tá regredindo. Esses dias, andando com um amigo e vestindo meu combo Giovanna-regata-jeans-mocassim, ele disse que parece que eu uso uniforme. Perguntei qual era a diferença. Ele disse "nenhuma, só acho engraçado". E é, mesmo. Porque meus amigos saem com meninas que se arrumam tanto pra vê-los que eles até reparam. E eles são desatentos. Meus amigos saem com meninas que tem "estilo rocker mais romântico, sabe?", mas não sabem conversar.

E como meus amigos tem certa preguiça, quando encontram alguém que saiba bater papo sobre tudo, ficam assustados. E aí é preciso convencê-los de que isso não é sinônimo de homossexualidade, mas de falta de tempo pra perder com coisa que não faz diferença. Meus amigos levaram tempo pra entender que eu não uso frufru, mas não sou lésbica. Que eu tenho bom gosto, mas não tenho uma namorada.

Estereótipos, eu sei. "Você não devia ser amiga de gente assim, Gi".

Mas é aquilo que eu falei: eu valorizo o que faz diferença. Hoje, eles sabem com quem eu saio. E o que eles achavam antes não faz mais diferença. Então eu não ligo.


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