palmas

5:32 AM

trabalho nesse lugar há pouco menos de um ano. gosto daqui. é calmo. livre. o trabalho não pesa, converso com gente, em sua maioria, feliz; posso cantar e ouço música o dia inteiro.

às vezes, canso. às vezes, cogito se não seria melhor sair daqui pra ir pra um lugar dentro da minha área, com números, cálculos, pessoas engravatas, saia lápis e salto 15. mas aí eu olho pra frente e vejo o quadro desse menino. já estava aqui quando fui contratada, mas sempre parece novo. dia desses, quando cheguei logo cedo, olhei pra ele e pensei: caraca, que menininho feliz.

e com isso me veio à cabeça que uma criança feliz, tão pequena, não é nada menos que reflexo da família em que está inserida. ele, na foto, deve ter dois aninhos. tem quase todos os dentes, é espertinho, segura a mamadeira bem perto e tem os braços abertos na foto ao lado. e eu me peguei pensando que um dia a mãe desse menininho feliz de braços abertos chegou em casa triste, porque teve um dia horrível no trabalho e estava cansada, queria tomar um suco, um ar, sentar, descansar, xingar o mundo, descabelar, mas precisou sacodir a poeira e cuidar do menininho. e eu me peguei pensando que isso pra ela deve ter sido a coisa mais bonita do mundo, porque tudo pode ser uma grande chatice, mas ela chega em casa e tem essa criança pequena, indefesa, que olha pra ela e sorri com os braços abertos, porque vê nela tudo o que o mundo é, em sua pequena cabeça de criança que bate palminhas sorrindo com os dentinhos à mostra.

não gosto muito de crianças, admito. se tirarmos meus primos xodós da jogada, não consigo contar cinco que realmente passam pelo meu filtro de pivete chatinho. mas esse menino, que eu nunca vi pessoalmente, me faz olhar pra frente e sorrir, porque penso que tem um pai que chega em casa e sorri pra ele, faz aviãozinho, dá comida, enquanto olha pra mulher e pensa que bom que estou com uma mulher que compartilha esse amor com uma criança tão feliz que bate palminhas e sorri de braços abertos.

eu não conheço essa família. não sei se os pais estão juntos, não sei se se amam, não sei se depois do menino do sorriso e palminhas ainda se mantêm companheiros, mas eu olho pra ele e lembro que existe um menininho desses pra cada um. uma música, uma banda, um amigo, um amor. e eu lembro do meu e sorrio.

e é por isso que eu gosto tanto daqui.

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