diário de gratidão #16 - a vida não é um balão, mas eu POSSO ser

1:05 PM

Existem coisas que mudamos para o bem daqueles que convivem conosco. Existem coisas que mudamos para o bem daquele que vive em nós: nós mesmos. Existem coisas que não mudamos para o bem daquilo que somos. 

Destas coisas imutáveis, devo ressaltar algumas sobre mim.

Vou embora cedo de festas. É uma tradição minha. Eu chego cedo, converso com as pessoas enquanto elas ainda estão sóbrias e calmas. Aproveito pra dançar e rir enquanto as piadas ainda fazem sentido. Vou embora  antes da metade da festa. Não gosto de fim de festa, de gente chorando, de cara de arrependimento, de cansaço exacerbado pelos excessos (redundância necessária, obrigada).

Eu não frequento lugares excessivamente barulhentos, a não ser que eu esteja procurando e pedindo por um lugar excessivamente barulhento. Geralmente, shows. De bandas que eu gosto, exclusivamente. A única vez que fui a um show de uma banda que não gosto, foi no Reveillón e eu não estava exatamente apta a escolher nada. E não gostei.

Não gosto de leite. Bebo café puro como água, suco de laranja para acompanhar o lanche e refrigerante quando não tem opção. Leite com nescau, só se for batido com muito chocolate e gelado o suficiente pra eu esquecer que tem leite ali.

Troco pessoas por livros. Troco saídas por livros. Troco passeios de sábado a noite por livros. Troco metade do meu salário por livros. Troco presentes por livros. Troco amores por livros. Muito provavelmente e, se fosse possível, eu me trocaria por livros. Ninguém entende - eu também não - mas isso acontece. Eu sou assim. Eu gosto de livros.

Minha gastrite ataca sempre que fico nervosa. Minha asma ataca sempre que fico ansiosa. Eu fico nervosa e ansiosa com muita frequência. Tenho diversas doenças psicossomáticas. Não posso fazer nada sobre isso, então convivo com elas. Não encha o meu saco dizendo que preciso praticar exercícios: não vai mudar nada.

Gosto de praticar exercícios quando TENHO VONTADE. Fiz um ano de academia, porque quis. Parei dois, porque quis. Corro aos domingos, de vez em quando, porque tenho vontade. Correr me faz bem e eu gosto de ver que as pessoas que frequentam o parque que corro frequentam o mesmo parque, todos os domingos, no mesmo horário.

Não gosto que me mandem fazer coisas que eu não gosto só porque "é o que deve ser feito por adolescentes/meninas/pessoas como você/leitores/pessoas que gostam de filmes". Eu não me enquadro nessas categorias: ninguém, de fato, se enquadra. Poucas coisas são tão utópicas quanto pensar que uma menina vai se tornar mais delicada sendo que ela não tem um pingo de delicadeza em suas ações. É utopia imaginar que um leitor vá ler Dom Quixote sendo que seu clássico preferido tem menos de 200 páginas. É estúpido esperar que alguém que não gosta de festas faça uma festa de 15 anos só porque "é isso que fazem". É isso que fazem, não que faço - nem que farei.

Eu assisto reality shows. Assisto Big Brother quando tenho vontade. Assisti The Voice e encontrei uma das melhores cantoras que já ouvi na vida lá. E eu falo do que eu gosto o tempo todo. Eu assisti a primeira edição da Fazenda e só não assisti as demais por falta de tempo. Eu assistia aqueles programas de perguntas e respostas do Silvio Santos. Eu adoro American Idol, The X Factor e blablablá, mas prefiro os reality shows do Brasil. A gente é mais legal.

Eu não bebo. Não gosto do gosto, não gosto de perder a noção, não gosto do que isso faz com as pessoas. Sequer GOSTO de conviver com pessoas que bebem regularmente, mas, às vezes, A VIDA nos obriga a fazer isto - e ela, a vida, é uma das poucas com quem eu não discuto.

Eu discuto. Discuto quando há divergência de opinião. Não discuto quando sinto que a outra parte não vai mudar de ideia. Às vezes, estou certa. Às vezes, errada. É a vida.

E isso é o que eu sou. Essas coisas, hoje, não mudo. E hoje, sou assim. Mas isso é hoje. Amanhã eu já não sei. E essa é outra coisa sobre mim: eu não sei até quando vou saber todas essas coisas sobre mim. E meio que sou grata por isso, porque cada mudança minha acrescenta algo para a lista de coisas que eu mudo em prol dos outros e em prol de mim. E em cada mudança vejo, de fora, aquilo que tem de errado naquilo que eu fui. E, se não for vendo de fora, não consigo mudar o que tem dentro. E eu preciso sair de dentro de mim.

E só dá pra sair de dentro de mim mudando. E eu me permito mudar.

Esta é, possivelmente, a única coisa que nunca vai mudar: eu mudo.

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